Os Super Gorrila uniram-se para extrapolar a ideia de arte institucionalizada criada por especialistas para uma fracção muito específica da sociedade.

Através de desvios à retórica quotidiana urbana e de incursões nos diversos mecanismos de representação, os Super Gorrila apropriaram-se do conceito de marketing viral, para estruturar as suas intervenções artísticas, apontando para um espaço social mais alargado e diverso, interrompendo percursos despreocupados com apontamentos cuidados e acutilantes criando o rumor de um novo produto ou serviço, neste caso especifico, Arte.

Uma Arte que procura o encontro, a comunicação e a partilha, que pesquisa variações formais do existente para reinventar, reintroduzir e re-apresentar o mundo ao mundo. Fazer igual mas de outra maneira.

SUPER GORRILA a obrar desde 2009.

supergorrilas@gmail.com

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Original Skin — Variações #2, Porto.



Original Skin

A One Year Project by Super Gorrila


Desde cedo que somos numerados, como as vacas ou os porcos. Somos picados logo de nascença como quem marca pelo fogo. Analisam-nos o ADN como um teste de pedigree. Mapeiam tudo o que podem e catalogam para no futuro tirarem proveito do que interessar. Nascemos num corpo que aparentemente não é nosso, é de outro. Sentimos ao longo da vida que a morte nos chega de todos os lados e que se não fossem os números, no fim não éramos nada. Bem, talvez as palavras ainda contem, se forem em número suficiente. A única maneira de fugirmos a não ser nada, é fazer não-nadas e apresentar mais números. Aí estão. Somos mais que um corpo e uma mente. Somos muitas vezes muitos corpos e anti-corpos em várias mentes. Da heteronomia, ao bipolarismo à esquizofrenia, das próteses aos implantes e transfusões, o controlo político sobre o nosso corpo é cada vez mais descaradamente escandaloso e silencioso. O nosso corpo não é do Estado, muito embora o Estado sejamos nós. Pode parecer paradoxal mas não o é, porque o que está em causa não é apenas o corpo biológico mas também o corpo político. O primeiro jamais pode ser de alguém enquanto que o segundo pode oscilar deste para aquele. Este corpo que aqui se fragmenta representa não só a consciência contemporânea do tempo e espaço fragmentado, como também a do sujeito fragmentado ou múltiplo e consequentemente o corpo como um conjunto de coisas (órgãos e sistemas) que todas juntas constituem uma unidade, mas que no fundo podem ser substituídas. Reflete assim também sobre a ideia de bio-política e transhumanismo, liberalismo mercantil e político, geo-estética e globalização. Este corpo expandido, globalizado, eternizado, cósmico, ancestral, é de todos e de ninguém. É publicamente anónimo, é plural em uníssono. É o nós, quando se pergunta “quem vem lá?” Encontramos este corpo todos os dias em todos os lugares. Desde no espelho da nossa casa, ao espelho na casa de alguém. Da nossa memória às construções coletivas vividas. Mas é como se víssemos apenas um vulto. Este corpo que se fragmentou, numerou, copiou e multiplicou como um vírus ou rizoma, agora vai gestar por este universo fora. Expande-se para lá do que é visível e sensível. Por vezes ainda ouvimos o seu eco nas paredes das cidades, nos edifícios abandonados, nas lixeiras, nos jardins degradados, nas ruas sujas. Paredes que já não evocam o útero. Paredes que já não estão vivas. São paredes zombies, mortas mas ainda de pé. Caem aos pedaços com um vento leve, aquele mesmo vento leve que nos acaricia a pele. Caem as peles, mas a ossada fica. Esses ecos estão carregados de simbolismo, história, estórias, narrativas e memórias coletivamente particulares. Esses ecos são também eles números. Números mortos, de falecidos de morte natural, assassinados, frações suicidas, infames deixados à sua mercê, indigentes. São números que nem são letras nem são sons. Números que nem são complexos nem naturais. Números nem em conjuntos nem separados. Esse número filosófico, metafísico e estético, antropológico e astrológico. Esse número que é morte e vida. São todos esses números que marcam este corpo, nosso corpo, esta pele que é a nossa pele disfarçada de si mesma num outro corpo. Este corpo já não morre. Caminha por entre as coisas produzidas artesanalmente e industrialmente, caminha por entre a cidade e a internet, caminha um mundo sem fronteiras. E caminhando vai-se mantendo vivo, tal como o mito, geração após geração. Este é o corpo do novo profeta, numa pele original. Esta é a pele original, essência de todas as essências dérmicas. Esta é a nossa pele, a pele do nosso corpo. Sim de todos nós. Todos os dias. Este é o verdadeiro não-nada que é instaurador da verdade em ato gerador do tegumento de todos os corpos.